17.8.12

AS CORTINAS DO ATELIER

Mesa de trabalho em frente a janela com cortina.
Comprei o pano (Ikéa), cosi-o, montámo-lo.
Quebrei a enxurrada de luz. A sombra é essencial à criação.


Dos poucos sonhos que tenho por realizar, um deles é ir para o estúdio, acomodar-me na mesa de trabalho e fazer, fazer, durante horas a fio, com alguém que as desfie por mim, enquanto ponho, camada sobre camada, a cor, o negro, papel, pano, matérias à espera que as una numa nova maneira de ser. Mas a minha vida é plena, de gente, de escassez de tempo. Forço espaço entre o meu corpo e o do outro para fazer caber os meus afazeres.
Continuarei à espera de, pela manhã, ir para o estúdio, acomodar-me na mesa de trabalho e ficar só, com a minha arte, que, por acaso, não me basta. 

24.6.12

livro de autor - CERTEZAS


pedra, pedra pintada, tecido e papel /stone, painted stone, cloth and paper
pedra ! stone: 94x8x5cm
livro | book: 5x5x2,5cm
250€ 





PALAVRAS
NÃO DOU OBJECTO DE CONTEMPLAÇÃO
IMAGINA
MANTA
PAPOILA
TORTILHA
PRIMAVERA
VIOLONCELO
LIVRO
ENTARDECER
CASA
SOMBRA
NEVOEIRO
ABRAÇO
LILÁS
ÁGUA
FILHO
AMOR
LER
RISCAR
COMER
CHILREAR
LUZ
ARPA
LIVRO

20.6.12

exposição | exhibition - LOOK INSIDE...

P09 PES LIV BPS 60104
LOOK INSIDE THE HOUSE OF BOOKS
Pedra mármore e madeira | marble stone and wood
250x33x85cm
800,00€
PEÇA EXPOSTA NA  AMADORA - ESCULTURA DE AR LIVRE 2012
de 16 de Junho 2012 a 28 de Fevereiro 2013

Os dois barrotes de madeira são caminho, carril, tronco de árvore ou banco de jardim. Juntam-se num ponto fora do alcance da sua dimensão física e do olhar. Encontrar-se-ão dentro da biblioteca, no lugar de um livro?

19.5.12

exposição | exhibition - sculpture factory RELOADED


MENSAGEM II
com texto de Fernando Pessoa, livro do Desassossego, cap.I
| Message II
with text from Fernando Pessoa
Pedra mármore e pano | marble stone and cloth
150x100cm (peça de parede)
600,00€
PEÇA EXPOSTA NA sculpture factory de Maio a Outubro de 2012






Tapeçaria, escultura, livro?
O excerto do texto de Fernando Pessoa está distribuído por 16 pequenas placas de pedra. Cada uma deve ser retirada da bolsa, lida e guardada novamente. Há uma impossibilidade de perceber o todo. Frustração?
  Painel de pano seguro por varão de madeira. A moldura de pano preto rodeia a área creme e macia. Na "manta" foram abertas bolsas onde se guardam 16 pequenas placas de pedra (5x30x1cm) ao longo das quais se pode ler o seguinte: "Sabemos bem que toda a obra tem de ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda.
E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem da tarde." 
Livro do Desassossego, Fernando Pessoa 

Cada placa tem a porção de palavras que lhe coube e a leitura deve ser feita da esquerda para a direita e de cima para baixo (as placas estão numeradas).
O leitor retira a primeira placa da bolsa, lê e volta a coloca-la no lugar. Fará este movimento sequencialmente, a não ser que tenha de voltar atrás por se ter esquecido do que leu anteriormente.
As palavras estão guardadas, nunca há a percepção do todo, e porque a leitura é interrompida cada vez que se muda de pedra (placa), o esforço de memória é grande e quase sempre termina na frustração do esquecimento e na impossibilidade de juntar todas as partes. Por isso "Mensagem II" não é um livro, não é uma escultura, pintura ou instalação. É uma SITUAÇÃO (imperfeita). 






 

28.4.12

RAIZES



Aprendo a gostar de envelhecer, como aprendi a gostar de ervilhas, favas e feijão. É o sabor doce e farto que sacia e se queda na digestão lenta, num parar enfartado mas satisfeito.
Sinto alívio porque já passei, e orgulho em cada ruga e cabelo branco, dos olhos sublinhados pela cor cinza de um descanso jamais alcançado.
Vou a meio. Já sem o medo de falhar, sem a pretensão de ser ouvida, de ser um nome, de ter estatuto. Sinto-me um niquinho acima, perdoem-me, dos que não vivem neste lugar, não fazem escultura, não desenham, e não se rodeiam desta beleza tão imperfeita que é a família.

17.4.12

ARTE DA VIDA | LIFE IS ART


Experimental é tudo o que já alguém conseguiu chamar ao meu trabalho. Há de facto um flutuar ao lado das áreas nobres, escultura, pintura, cinema… Não me dedico, não toco, não tenho um estilo. Artista? Naaa! Não tenho o saber nem a habilidade que a definem, prefiro a EXPRESSÃO, ou seja, a ideia, o gesto, o carácter, a animação, a essência de um sentimento (def).
Um dia ao mostrar o trabalho a um galerista, ele disse “O seu trabalho não tem ponta por onde se lhe pegue!”. Hoje provavelmente continua a não ter, porque nunca encontrei um estilo mas encontrei a minha linguagem.

Estilo: características (def).
Linguagem: sinais que servem a expressão do pensar e do sentir (def).

14.4.12

PERTENÇO.NÃO PERTENÇO.


Para ti, que não me vês nem lês, escrevo. Envolta em lençóis quentes, já não te espero mas continuo a mostrar-te toda a beleza que alcanço da minha janela. Ninguém me ouvirá. Estou a salvo.
Vai ser uma conversa sem princípio, conclusão ou fio condutor porque também é assim que a vida me acontece.
Tudo se mistura e toco (sussurro) as várias expressões artísticas que estão ao meu alcance, sem de facto lhes pertencer (Mulher sombra).
 “Pertenço porém, aquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado”.
Fernando Pessoa