28.4.12

RAIZES



Aprendo a gostar de envelhecer, como aprendi a gostar de ervilhas, favas e feijão. É o sabor doce e farto que sacia e se queda na digestão lenta, num parar enfartado mas satisfeito.
Sinto alívio porque já passei, e orgulho em cada ruga e cabelo branco, dos olhos sublinhados pela cor cinza de um descanso jamais alcançado.
Vou a meio. Já sem o medo de falhar, sem a pretensão de ser ouvida, de ser um nome, de ter estatuto. Sinto-me um niquinho acima, perdoem-me, dos que não vivem neste lugar, não fazem escultura, não desenham, e não se rodeiam desta beleza tão imperfeita que é a família.

17.4.12

ARTE DA VIDA | LIFE IS ART


Experimental é tudo o que já alguém conseguiu chamar ao meu trabalho. Há de facto um flutuar ao lado das áreas nobres, escultura, pintura, cinema… Não me dedico, não toco, não tenho um estilo. Artista? Naaa! Não tenho o saber nem a habilidade que a definem, prefiro a EXPRESSÃO, ou seja, a ideia, o gesto, o carácter, a animação, a essência de um sentimento (def).
Um dia ao mostrar o trabalho a um galerista, ele disse “O seu trabalho não tem ponta por onde se lhe pegue!”. Hoje provavelmente continua a não ter, porque nunca encontrei um estilo mas encontrei a minha linguagem.

Estilo: características (def).
Linguagem: sinais que servem a expressão do pensar e do sentir (def).

14.4.12

PERTENÇO.NÃO PERTENÇO.


Para ti, que não me vês nem lês, escrevo. Envolta em lençóis quentes, já não te espero mas continuo a mostrar-te toda a beleza que alcanço da minha janela. Ninguém me ouvirá. Estou a salvo.
Vai ser uma conversa sem princípio, conclusão ou fio condutor porque também é assim que a vida me acontece.
Tudo se mistura e toco (sussurro) as várias expressões artísticas que estão ao meu alcance, sem de facto lhes pertencer (Mulher sombra).
 “Pertenço porém, aquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado”.
Fernando Pessoa